A Gerdau já demitiu 700 trabalhadores e está reduzindo a produção das suas usinas no Brasil, com exceção da siderúrgica de Ouro Branco, para reagir ao aumento da importação de aço pelo país, segundo informou nessa segunda-feira (6/11) o diretor-presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, ao divulgar os resultados da companhia no terceiro trimestre.
“Nós desligamos 700 colaboradores e cortamos produção do Ceará ao Rio Grande do Sul e o único local onde não há redução é em Ouro Branco” afirmou Werneck.
De acordo com ele, as importações de aço pelo Brasil, principalmente da China, cresceram 58% de janeiro a setembro deste ano, totalizando 3,7 milhões de toneladas em importações diretas de aço. Com isso, as importações, que historicamente, segundo Werneck, responderam por 12% do consumo aparente no Brasil, hoje representam 23%.
“Esse ano nós estamos falando numa importação de 5 milhões de toneladas de aço da China, da Rússia, da Coreia do Sul e da Turquia e esse é o maior volume desde 2010, quando o PIB do Brasil cresceu 7% e as importações somaram 4,2 milhões de toneladas de aço”, detalhou o diretor-presidente da Gerdau.
De acordo com ele, o volume de importação de aço este ano equivale à produção de duas usinas siderúrgicas integradas atualmente. “O setor sempre competiu, mas não tem como competir com o aço da Ásia, que têm preços inferiores aos custos de produção.
Falando em nome do setor siderúrgico, Gustavo Werneck afirmou que, a exemplo do que já fizeram outros países, defende a elevação da tarifa de importação de aço para 25%, como forma de proteger o parque siderúrgico brasileiro e afastar o processo de desindustrialização. “Em toda a cadeia são 3 milhões de pessoas direta e indiretamente sob risco se essa situação se prolongar, acelerando a desindustrialização” afirmou o executivo.
Segundo o diretor-financeiro da Gerdau, Rafael Japur, hoje é cobrada uma tarifa comum de importação pelos países do Mercosul, de 12%, sendo que há uma lista de 100 produtos que podem ter uma tarifa diferenciada – menor para garantir abastecimento e maior para proteger setores – e o que as siderúrgicas pleiteiam junto ao governo é a inclusão do aço nessa lista e a elevação da tarifa para 25%¨.”O Brasil precisa decidir se quer exportar minério de ferro para a China e importar aço, gerando emprego e renda na China, ou se quer gerar emprego e renda aqui”, afirmou Japur.
“No Brasil, mesmo com dificuldades, com o custo Brasil alto, o setor sempre foi competitivo, mas a competição com o aço importado é desleal e esse problema se agravou com o crescimento significativo das importações”, disse Gustavo Werneck. “A China não segue as recomendações da OMC e isso atinge de forma intensa a indústria do aço.
Segundo os executivos da Gerdau, Estados Unidos, Canadá e México têm tarifas de proteção ao aço importado da China, o que deixa o Brasil exposto e como alvo das exportações chinesas que enfrentam restrições em outros mercados. “O setor precisa de medidas urgentes sobre o aço da China que está entrando no Brasil e que estão impedindo o pagamento de mais impostos e geração de emprego e renda”, afirmou Gustavo Werneck reforçando que esse volume de importação de aço previsto para este ano pode impactar 250 mil empregos.
Impacto nos resultados
O maior volume de importação de aço se refletiu no balanço da Gerdau no terceiro trimestre. As vendas de produtos entre julho e setembro no mercado interno somaram 1,26 milhão de toneladas, o que representou uma queda de 6,3% em relação ao segundo trimestre e de 5,3% sobre igual período do ano passado. Com uma maior competição no mercado nacional houve pressão de preços. No terceiro trimestre a receita liquida da Gerdau no Brasil foi de R$ 6,63 bilhões, o que representou uma queda 8,3% em relação ao segundo trimestre e de 21,8% em relação a igual período do ano passado, quando a receita líquida chegou a R$ 8,48 bilhões.
Estado de Minas