Um laudo encomendado pela família aponta os possíveis erros que deixaram a estudante de medicina Larissa Moraes de Carvalho, de 31 anos, em estado vegetativo há pouco mais de um ano, quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, para realizar uma cirurgia ortognática, procedimento que visava correções de crescimento dos maxilares e mandíbulas.
A estudante acabou tendo uma parada cardiorrespiratória, em 16 de março de 2023, durante o transporte do centro cirúrgico no 14º andar para a enfermaria no 9º andar. Na época do ocorrido, Larissa cursava o 3º período de medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A família crê que a atual condição de saúde de Larissa decorre de erro médico e, por isso, contratou uma perícia particular para apontar as possíveis falhas no procedimento. Confira o que mostra o laudo:
- A descrição cirúrgica registrada em prontuário não detalha os passos adotados em cada etapa do procedimento.
- O termo de consentimento livre e informado (TCLE) assinado pela paciente antes da cirurgia não detalhou os riscos associados à anestesia geral, nem mencionava diretamente a possibilidade de parada cardiorrespiratória, com sequelas associadas.
- A anestesista não registrou no boletim anestésico o momento e dose de administração de cada fármaco, a maneira e via que essa medicação foi administrada, se houve divisão da dose total, os horários de administração, se a dose foi única ou distribuída ao longo do período anestésico.
- Depoimentos no laudo apontam que a anestesista se ausentou da sala em vários momentos durante a cirurgia, para ler livro e almoçar. Momentos estes que a família acredita que não permitiu um ideal acompanhamento do processo anestésico, de viabilizar as devidas anotações das doses e horários dos anestésicos aplicados.
- Larissa deu entrada na sala de recuperação pós anestésica (SRPA) às 17h25 e foi liberada às 17h45 pela anestesista. Ou seja, somente após 20 minutos, tempo inferior ao recomendado de uma hora, conforme Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) Nº2.174/2017.
- Embora conste no checklist de transporte intra-hospitalar que Larissa foi acompanhada, no deslocamento pelo técnico de enfermagem, não há qualquer registro feito pelo mesmo quanto à complicação ocorrida durante o transporte.
- Segundo informações, o referido técnico foi demitido dias depois pelo hospital, que também negou, em primeiro momento, a fornecer filmagens durante o transporte, quando aconteceu a parada e depois de ordenada disse que as imagens foram prescritas.
- Os pacientes deveriam descer para os andares monitorizados com oxímetro e frequência de pulso, o que não ocorreu com a Larissa.
De acordo com o pai de Larissa, Ricardo Carvalho, se estes procedimentos tivessem sido seguidos, a parada cardiorrespiratória não teria sido evitada, mas teria sido detectada de imediato e a filha teria sido prontamente socorrida evitando as sequelas ocorridas.
A família está buscando na Justiça uma indenização. O Ministério Público solicitou abertura de inquérito policial, com base nos laudos periciais apresentados. Além do hospital, o médico-cirurgião e o médico anestesista são investigados no caso.
Santa Casa diz que não vai comentar o caso
rocurado pelo Estado de Minas na noite dessa quinta-feira (25), o hospital optou por não se manifestar sobre o caso. “A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora informa que, uma vez já instaurada ação na Justiça, em respeito ao devido processo legal, o hospital não fará quaisquer comentários sobre o assunto fora dos autos judiciais. Reiteramos nosso compromisso com a transparência e a qualidade no atendimento prestado a toda comunidade ao longo de nossa história, que soma quase dois séculos”, informou a unidade de saúde, em nota.