Tatiana Santos/radiopontal.com.br
O Instituto Nacional do Câncer (Inca), principal órgão de referência sobre cânceres no Brasil, estima uma média de 44 mil novos casos de câncer colorretal por ano no país até 2025. No mundo e em nosso país, é o terceiro mais comum. Especialista no tema, a oncologista clínica, Vanessa Motta, esclarece que a definição da doença é devido à localização, que acomete o intestino grosso e o reto. Ela atua no Centro Oncológico de Itabira (COI) e no Núcleo Especializado em Oncologia e Hematologia de Itabira e João Monlevade (Neoh).
Conforme explica, as causas são multifatoriais, ou seja, não há um fator causador único, mas a má qualidade de vida é o principal: obesidade, sedentarismo, alimentação rica em ultraprocessados, em carne vermelha, em enlatados, e pobre em fibras, frutas, verduras. “A gente sabe também que o tabagismo e o etilismo, o uso de bebida alcoólica, também são fatores que podem contribuir para esse tipo de tumor”, destaca.
Diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce deste câncer é de fundamental importância, pois se não houver uma intervenção, há grande possibilidade de o tumor crescer no intestino, levar as células tumorais a se disseminarem, podendo se instalar em órgãos como pulmão, fígado. De acordo com a especialista, a doença pode ser muito silenciosa no início.
Entre o começo da lesão e a manifestação dos sintomas, pode decorrer anos. Dentre os sintomas, está a alteração do hábito intestinal. “Porque se eu tenho uma lesão crescendo no intestino, é comum às vezes sentir dor. A constipação pode acontecer, pode ter diarreia, presença de sangue nas fezes”, exemplifica. Mas Dra Vanessa ressalta que o sangue nas fezes é relativamente comum, porque há outras causas também não cancerígenas que podem justificá-las. No entanto, é um sintoma de alerta para o profissional da saúde seguir com a investigação, junto de outros exames auxiliares.
O principal exame para diagnosticar é a colonoscopia (rastreio). A recomendação é de que seja feita a partir dos 45 anos em todas as pessoas, independente de haver ou não algum sintoma. Através da colonoscopia é possível fazer retirada de um pólipo, que porventura possa se transformar em um tumor. Nesse caso é feito de maneira preventiva.
Chances de cura
Dra Vanessa esclarece que existe cura para o câncer colorretal, mas depende muito do estágio do problema. “Quanto mais inicial, a gente sabe que maior é a nossa chance de cura, de êxito no tratamento”, resume. Mas mesmo nos casos em que já se fez o diagnóstico metastático, o câncer colorretal é um dos tumores em que o tratamento tem intuito curativo. Uma das estratégias adotadas, além do tratamento primário do tumor, é fazer também a ressecção (retirada por cirurgia) de metástases, caso esteja em fase avançada.
Incidência de casos nos mais jovens
Por fim, a oncologista argumenta que, apesar de o câncer acometer, de maneira geral, pacientes principalmente a partir dos 50 anos, essa não tem sido a realidade atualmente. “Nos últimos anos a gente tem percebido que se está fazendo diagnóstico de câncer colorretal em pacientes de uma idade mais jovem, com 30 anos, 20 e poucos anos”, preocupa-se.
A situação tem chamado a atenção da comunidade médica, de oncologistas, que buscam compreender esse fator. Ainda que haja diversos estudos nesse sentido, ainda não há nada fechado sobre a questão. Mas, segundo Dra Vanessa, algumas hipóteses têm sido apontadas, e uma delas pode estar relacionada ao tipo de alimentação. “A gente fala que as pessoas estão expondo muito mais cedo as crianças à alimentação que não é saudável, como os embutidos, os enlatados, os ultraprocessados. Então, antes a gente começava a comer esse tipo de alimento, às vezes com 20 anos”, descreve.
O fator de risco seria a partir dos 20 anos, e a presença do tumor, por volta dos 50, 60 anos. No entanto, com a exposição precoce desses alimentos a consequência é o aparecimento do câncer por volta dos 30 anos. A orientação da especialista é focar num melhor estilo de vida, investindo em alimentação saudável, com muitas frutas, fibras, ingestão de água, evitando a obesidade, bebidas alcoólicas e cigarros. “Não tem um chá que eu vou falar ‘isso aqui vai curar’. Mas a alimentação saudável, a comida de verdade, é o principal, é um pilar para todo mundo. Acho que é muito importante. Isso é o universal na medicina”, finaliza.