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Cãozinho é morto por pitbull desacompanhado; caso acende alerta sobre a responsabilidade de tutores
Cãozinho é morto por pitbull desacompanhado; caso acende alerta sobre a responsabilidade de tutores
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• Cãozinho é morto por pitbull desacompanhado; caso acende alerta sobre a responsabilidade de tutores

Desde que nasceu, há cinco anos, Isadora Ribeiro teve como companhia o cãozinho Espirro. No dia 23 de novembro, porém, o cãozinho da raça shih tzu acompanhava o irmão da criança, Artur, de 10 anos, em uma partida de futebol na rua em frente à casa da família em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. De repente, um pitbull, sem a companhia do tutor e já conhecido, apareceu. Rapidamente, Artur abriu o portão do imóvel para que ele e o colega se salvassem. Antes de entrar, ele gritou insistentemente por Espirro. Mas o pior aconteceu: o cãozinho foi violentamente atacado pelo pitbull e morreu. “Ele e minha filha cresceram juntos. Além do mais, ele a ajudava no processo de interação, já que ela é autista. A sensação é a pior possível”, afirma Valter Ribeiro, tutor do shih tzu.

Ataques como esse também podem causar ferimentos e até a morte de pessoas. O número de atendimentos desse tipo de incidente tem aumentado desde 2022. No entanto, a defensora da causa animal Aliene Ornelas ressalta que a culpa desses ataques não tem relação com os cães, mas sim com os tutores. “O cachorro é o espelho do dono”, diz. Uma das hipóteses para este aumento de ataques, segundo Aliene, é porque estão ocorrendo mais abandonos de cães de grande porte pelas ruas.

Em 2022 o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII atendeu 2.173 casos. Em 2023, foram 2.838 pacientes atendidos — aumento de 30%. Até outubro deste ano, esse número já quase ultrapassa o total de atendimentos do ano passado: 2.587. Os dados são da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Apesar de já existir uma legislação estadual que prevê multa para o tutor de um cão ferir alguém, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) o Projeto de Lei 1263/2023 com o objetivo de endurecer as punições. Dentre as propostas do texto, está a obrigatoriedade de utilização de focinheira e coleira — que informe nome, endereço e telefone do tutor do animal. Além disso, o projeto estabelece que a condução dos cães em espaços públicos só seja permitida sob a guarda de pessoas acima de 18 anos.

“Inicialmente, a proposta previa que maiores de 16 anos pudessem realizar a condução pelas vias públicas. Mas decidimos alterar, pois isso evitaria a transferência de responsabilidade. Imagine uma criança sendo dilacerada por um cão, seja da raça pitbull, rottweiler ou outra, e o responsável pelo animal não receber a devida punição”, afirmou o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL), relator do projeto de lei na Comissão de Segurança Pública da ALMG.

Ausência sentida diariamente

Viver sem a companhia de Espirro tem sido um desafio para a família de Ribeiro, que sequer contou para Isadora sobre a morte do cãozinho temendo a reação. O comerciante espera que tutores sejam responsabilizados em casos como esse.

“É um trauma que fica para toda a vida. Meu filho presenciou o Espirro sendo morto. Ele estava conosco desde filhote, cresceu com a Isadora. A pergunta que fica é: o tutor será responsabilizado? O que me foi informado é que isso só pode acontecer se eu entrar com uma ação (na Justiça). Esse tutor é um policial federal aposentado, e não é a primeira vez que o pitbull dele ataca outros animais, mas nada acontece”, afirmou. A reportagem tentou localizar o tutor do pitbull por meio das pessoas entrevistadas e de vizinhos; no entanto, não obteve sucesso.

Rosto é uma das partes do corpo mais afetada

Ainda segundo o cirurgião-geral, o rosto é uma das áreas mais atingidas em ataques desse tipo, muitas vezes exigindo procedimentos estéticos para correção. Dependendo da profundidade da mordida, o ataque pode ser fatal. “Se a lesão for na coxa, há risco de morte, pois essa região abriga os vasos femorais”, comenta o especialista. A veia femoral, localizada na coxa, é um vaso sanguíneo responsável por transportar o sangue desoxigenado da perna de volta ao coração.

Em casos de mordidas de cães, a recomendação é lavar a área afetada imediatamente com água corrente e sabão. “Não aplique nenhuma substância, como pó de café ou pasta de dente. Esses itens devem ser evitados. Procure atendimento médico, inclusive para receber vacinação (contra a raiva, entre outras), se necessário”, orienta Versiani.

Abandono é crime

A Lei Sansão, assinada pelo Executivo no dia 29 de setembro de 2020, estabelece que o abandono de animais, as agressões e outros tipos de violência configuram crimes. O deputado federal Fred Costa (PRD-MG), autor da lei, considera que essa legislação representa o “maior avanço na luta pelo bem-estar animal”. A legislação prevê prisão (de dois a cinco anos) para quem praticar maus-tratos.

“O abandono de animais sempre foi um problema significativo, mas temos observado um crescimento nos casos. No caso de animais de grande porte, os tutores frequentemente os abandonam porque eles se tornam muito agressivos ou estão doentes. Abandono é crime. Trabalhamos incansavelmente para promover a posse responsável”, destaca Roberta Cabral, superintendente da Superintendência de Proteção Animal (Sepa) de Betim.

Em Belo Horizonte, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) realiza o recolhimento de cães e gatos encontrados soltos nas vias públicas sem a presença de tutores. Em 2024, foram registradas 17 solicitações para o recolhimento de pitbulls e outros cães de grande porte soltos nas ruas. Os pedidos para o recolhimento de animais devem ser realizados pelos telefones (31) 3277-7414, 3277-7411 ou 98372-1785, com a indicação do endereço onde os animais se encontram.

OTEMPO.COM.BR

 

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