Viajar o Brasil e o mundo em busca de sepulturas. Desde o dia 2 de novembro de 2023, esta tem sido a rotina do casal pernambucano Ana, de 58 anos, e Guilherme Lithg, 52. Com determinação de sobra, os dois almejam entrar para o Guinness World Records, ao visitar o maior número de cemitérios ao redor do planeta.
Para conseguir o feito, eles precisam conhecer cemitérios de todas as cidades com mais de 100 mil habitantes nas Américas. E, nesta segunda-feira (11/3), resolveram fazer uma parada em Belo Horizonte para passar a noite no Cemitério da Colina, no Bairro Nova Cintra, na Região Oeste da capital mineira.
Ideia inusitada
Guilherme e Ana são naturais de Recife (PE) e decidiram pegar a estrada a bordo de um motorhome e mergulhar de cabeça no projeto batizado de ‘Coveiros pelo Mundo’. “Trabalho no mercado funerário há muitos anos, e percebemos uma falta de interesse das pessoas pelos cemitérios. Os índices de visitação têm caído de maneira ‘monstruosa'”, conta Guilherme, especialista em necrópole. Por essa razão, surgiu a tentativa de reverter o cenário.
“Juntei três paixões: cemitérios, viagens e motorhomes. E nasceu esse projeto”. Após conversas com a esposa, decidiram, então, visitar cemitérios, com o objetivo de contar suas histórias e curiosidades das mais diferentes culturas pelo mundo. Mas a decisão não foi fácil, principalmente para sua companheira. Ele conta que venderam tudo o que tinham e deixaram o conforto da antiga casa, de quase 400 m², para morar em um veículo de 7,5 m². “Foi uma mudança difícil, mas, assim como eu, ela acredita na necessidade do projeto e me acompanha desde então”, relembra.
Em busca do recorde, o casal já esteve em 31 países e já tem uma lista de mais 18. “A gente vai em busca de histórias que merecem ser contadas, lendas urbanas, personalidades e arquitetura. Nosso objetivo também é transformar os cemitérios em lugares que merecem ser visitados e melhorar os serviços funerários, por meio da divulgação das boas práticas”. Eles já contabilizam um total de 2.017 cemitérios visitados.
A bordo de uma motorhome
Guilherme Lithg destaca o sentimento gratificante ao ser bem recebido por onde passam. Ao chegar nos lugares, a motorhome vermelha é motivo de festa, e o nome ‘Coveiro pelo Mundo’ estampado no veículo chama atenção de olhares curiosos. “As pessoas nos abordam e vêm conversar conosco para entender. Alguns fazem o sinal da cruz, outros ficam com medo, mas compreendem quando explicamos”.
Além disso, o casal dorme, muitas vezes, em postos de gasolina, faz amizade com donos de outros veículos e recebe doação de comida.
A experiência de dormir no cemitério
O despertador toca à meia-noite em ponto, e o viajante conta que a primeira coisa que fazem é procurar as lendas urbanas do lugar. Com 20 anos trabalhando no ramo, o casal ressalta que dormir em cemitérios se tornou algo comum.
“É um local seguro e de respeito”. Apesar do modo de vida parecer uma ‘brincadeira’ para muitos, Guilherme ressalta que o trabalho é sério e respeitoso. “A sensação de estar lá assemelha-se a prestar uma homenagem. Nós tentamos fazer a diferença para que as pessoas entendam a importância de guardar e preservar suas memórias, e o cemitério é mais do que um depósito de ossos e corpos”.
O futuro do projeto
Com a venda de todas as posses, o casal consegue se auto sustentar por cerca de um ano. Mas para além disso, um dos pilares para manter o projeto de pé e obter sustento são as consultorias prestadas pela dupla a grupos funerários.
Ana e Guilherme pretendem concluir as visitas em todos os cemitérios no continente americano, o que está previsto para daqui cinco anos. Depois, têm planos de dar sequência na África. O projeto está dividido por continentes, e os dois desejam continuar até visitar todos os cemitérios de todas as cidades com mais de 100 mil habitantes do mundo.
O casal compartilha histórias e imagens no perfil @coveiropelomundo no Instagram.
Estado de Minas