O vaivém no bairro residencial na região sudoeste de Goiânia ganhou um toque no mínimo inusitado desde dezembro do ano passado: não é um carro de luxo ou um cachorro exótico que atrai os olhares, mas sim Efraim, um robusto boi da raça nelore criado na garagem de uma casa. Resgatado ainda bezerro, ele agora é a estrela do quarteirão, cativando vizinhos com sua doçura e, vez ou outra, causando confusão com seu porte avantajado.
A história de Efraim começou como um drama no interior goiano em uma fazenda de São Miguel do Passa Quatro. Quando nasceu, sua mãe, uma vaca nelore, rejeitou o filhote, após o mesmo se perder em uma fazenda vizinha. Alguns dias de afastamento foram suficientes para a rejeição. “Ela simplesmente não aceitava ele e deixava ele sozinho. Ele estava machucado, preso no arame farpado, com ferimentos que deram bicheira”, relata a cuidadora ao Mais Goiás, uma produtora rural que prefere se manter no anonimato.
Diante da situação, a produtora e sua filha não viram outra solução senão trazer o bezerro a Goiânia para a própria casa, onde começou sua jornada de superação. A adaptação foi difícil: o boi Efraim precisava ser alimentado com leite de vaca na mamadeira, mas recusava o alimento. “No começo era na marra mesmo. A gente segurava ele e dava o leite. Se não fosse assim, ele não sobreviveria”, conta. Ambas faziam uma verdadeira força-tarefa para manter a alimentação do pequeno Efraim em dia.
Os desafios de saúde foram muitos. Efraim enfrentou infecções, diarreia severa que resultou em um prolapso retal e até crises de gases que o deixaram inquieto e em sofrimento. Mas de forma atenta, as cuidadoras o deram suporte com remédios e probióticos, o bezerro venceu todas as adversidades. “Hoje ele é um boi muito forte e saudável, mas muito mansinho”, diz a cuidadora, com orgulho. Saudável, ele deverá retornar nos próximos dias para seu lar. “Agora, ele já está em condições de se virar sozinho na fazenda”, relata.
A vida dentro da casa e as “bagunças” do boi Efraim
A garagem virou o lar de Efraim, que trocou o pasto pelas comodidades urbanas. Se por um lado ele é a alegria da casa, por outro, seus 600 kg de robusto charme vêm acompanhados de pequenas travessuras. “Ele já quebrou canos, retrovisores de carros e adora arrancar a mangueira da máquina de lavar roupa”, conta, entre risadas.
Apesar das peripécias, Efraim é descrito como dócil e carinhoso. “Ele deixa a gente deitar em cima dele, gosta de carinho e até parece que vai para outro mundo quando está sendo mimado”, revela. A cena do nelore relaxando enquanto recebe afagos é uma das favoritas dos vizinhos, que param para admirar e tirar fotos.
Luis Cardoso trabalha num comércio em frente à casa da produtora rural. De Brasília, ele mora em Goiânia há aproximadamente um ano. “Eu já tinha visto muita coisa na vida, mas boi de pet é a primeira vez”, brinca. Mas ele destaca que não há grandes problemas em um animal de grande porte ser criado em meio a um bairro residencial. Ao contrário.
“Ele virou atração turística aqui. Direto vem gente tirar fotos. A dona dele também mantém a casa bem asseada, sem sujeira. Acho que isso faz a diferença para que os outros vizinhos não reclamem. Claro, não deixa de ser engraçado e curioso”, comenta.
Criar um gado na cidade não é tarefa fácil. O leite deu lugar à ração e ao silo, mas os custos são altos. “Gastamos muito com leite, depois com ração. Mas valeu a pena, porque ele está vivo e feliz”, diz a cuidadora, emocionada ao lembrar que, sem seu gesto, Efraim provavelmente não teria sobrevivido. Ao ser questionada se não pretende abater Efraim algum dia, a produtora repreende o repórter. “Jamais! Ele é mais que um gado, ele é parte da família. É bagunceiro, mas é nosso bagunceiro”, brinca.