O traficante Fernandinho Beira-Mar foi transferido do presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e encaminhado para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Além dele, 22 presos deixaram a unidade potiguar e foram levados para outras penitenciárias federais. A medida foi tomada após a fuga de dois detentos da prisão em Mossoró.
De acordo com informações de integrantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a transferência dos 25 presos é uma atividade de “rotina”. O país tem cinco presídios federais, que são consideradas prisões de segurança máxima — além de Mossoró, há unidades em Brasília (DF), Catanduvas (PR), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO).
A Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) informou que o rodízio periódico de presos tem “a finalidade de garantir o enfraquecimento das lideranças do crime organizado”.
“Ressalta-se que o remanejamento de presos no âmbito do Sistema Penitenciário Federal é medida importante para seu perfeito funcionamento, pois visa impedir articulações das organizações criminosas dentro dos estabelecimentos de segurança máxima, além de enfraquecer e dificultar vínculos nas regiões onde se encontram as Penitenciárias Federais”, disse a Secretaria.
Segundo levantamento do R7 feito com base em dados da Senappen, a penitenciária de Mossoró é a segunda unidade com menos detentos do Brasil. A prisão tem, segundo os números mais recentes, de junho de 2023, 68 pessoas, atrás apenas do presídio da capital federal, que tem 46.
A transferência de Fernandinho Beira-Mar ocorre após a fuga inédita de dois presos da prisão em Mossoró. Os investigadores da força-tarefa que buscam os fugitivos cercaram neste domingo (3) uma fazenda em Baraúna (RN), município na zona rural do estado e que faz divisa com o Ceará, após moradores da região relatarem ter visto os foragidos durante a madrugada. Os dois teriam invadido uma propriedade rural e agredido um agricultor. Além disso, de acordo com policiais que participam das buscas, os detentos roubaram outros moradores.
Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento fugiram da carceragem federal em 14 de fevereiro. A fuga é a primeira desde a implementação do Sistema Penitenciário Federal no Brasil, em 2006. Mais de 600 agentes estão à procura dos detentos. Desde que escaparam da penitenciária, Rogério e Deibson foram vistos em diversas ocasiões. Dois dias após a fuga, os homens teriam feito uma família de refém, na zona rural de Mossoró. Neste dia, a polícia também encontrou pegadas, calçados, roupas, lençóis e uma corda, além de uma camiseta do uniforme da penitenciária, em uma área de mata.
Os investigadores concentram as buscas entre Mossoró e Baraúna, cidades que estão separadas por uma distância de aproximadamente 35km. A Polícia Federal passou a oferecer uma recompensa em dinheiro, de R$ 30 mil, por informações que levem à captura dos foragidos. As denúncias podem ser feitas pelo número 181 ou por mensagem para o celular (84) 98132-6057. O anonimato é garantido.
Especialistas apontam reação lenta e falhas estratégicas
Falhas estratégicas e demora para reação dificultam a captura dos dois fugitivos da penitenciária federal de Mossoró (RN), dizem especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7. Para o especialista Leonardo Sant’Anna, alguns fatores podem ter uma relação próxima com as dificuldades de captura dos presos. “O primeiro item foi o tempo que levou até que a fuga fosse percebida. Essa demora é extremamente prejudicial, caso se queira fazer uma captura em um curto espaço de tempo”, afirma.
De acordo com o especialista, o segundo ponto são as conexões criminosas dos fugitivos. “Eles fazem parte de uma facção criminosa que tem muito poder, e a gente fala também de muito dinheiro. Eles devem ter conseguido fazer esse contato por telefone, uma tecnologia que pode ter ajudado na fuga com acesso a mapas e a pontos de melhor deslocamento para uma movimentação mais rápida”, avalia.
Para o também especialista em segurança pública Antônio Testa há indícios de que houve conivência de pessoas de dentro do sistema prisional para a fuga. “Certamente, os fugitivos tiveram algum tipo de apoio. Nesses casos, a logística é fundamental. Todas as análises que fizemos indicam que aquela fuga seria muito difícil sem a conivência de quem quer que seja. Como conseguiram sincronizar a fuga e sair tranquilamente?”, questiona. “Em teoria, eles estavam incomunicáveis. Então, para eles organizarem uma fuga, eles teriam que ter se comunicado com alguém”, acrescenta.