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Pai sobe no telhado com filha de 8 dias na mochila: ‘Minha vida nas mãos’
Pai sobe no telhado com filha de 8 dias na mochila: ‘Minha vida nas mãos’
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• Pai sobe no telhado com filha de 8 dias na mochila: ‘Minha vida nas mãos’

Em uma semana, a vida do fiscal de caixa Patrick da Silva Santos, 29, e de sua esposa, Joicy Machado, 27, virou de ponta cabeça.

No dia 25 de abril, nasceu Lara, a filha caçula do casal. No dia 3 de maio, Patrick teve que colocar a recém-nascida dentro de uma mochila para salvá-la da enchente que tomou conta das ruas de Eldorado do Sul (RS).

Os três estavam em casa com a Anne, a filha de 5 anos, quando a água começou a indicar que iria subir. “Decidimos ir para a casa do meu pai, na Ilha da Pintada, que tinha um segundo piso feito de madeira”, contou Patrick ao UOL

No imóvel, ficaram nove pessoas a espera do resgate. “Fomos dormir, até então a água tinha começado a entrar em casa e estava logo acima da canela. Quando acordamos, a água já estava dando em cima do peito.”

Foi quando a preocupação aumentou e eles foram para a casa de um vizinho. “É uma casa grande, ainda em construção, mas com paredes e teto, mais estruturada. Ficamos ali, a água estava muito alta e não tinha como sair.” Foram duas noites no local.

“Já estávamos sem alimento, sem água, as crianças com fome. Nós com medo de acontecer alguma coisa com elas, se machucarem ou adoecerem”, contou Patrick.

Na noite antes de sermos resgatados, um avião e um helicóptero sobrevoaram o local e nós começamos a sinalizar: primeiro com o telefone, depois com uma fogueira em cima do telhado. Eles ficaram um tempo e foram embora, achei que voltariam para nos salvar no outro dia.

No dia seguinte, ao acordar, Patrick passou por cima dos telhados e conseguiu pular o muro para outra casa, onde encontrou outras pessoas ilhadas. Lá, ele foi informado que chegaria o resgate em jet-ski. Quando o veículo chegou, não tinha espaço para passar até sua casa. Ele resolveu falar com pescadores locais.

“Eu sabia que tinha risco de ficar ali muitos dias, e como estávamos sem comida e sem água, decidi passar as pessoas pelo telhado, uma de cada vez.”

Patrick ficou com receio porque o telhado era frágil e estava molhado, já que chovia no local. Ele reforçou a estrutura com tábuas, na tentativa de diminuir o risco de quebrar. O jovem atravessou a esposa e, depois, teria que passar com a bebê no colo.

Pensei em amarrar, mas poderia machucá-la. Forrei a mochila com algumas roupas que a gente tinha trazido, e coloquei a bebezinha. Ela ficou confortável e segura. Coloquei ela na frente do corpo e abracei com uma mão. A outra, usei para me locomover.

“Eu só conseguia pensar que, se qualquer coisa acontecesse, ia ser minha culpa, porque eu estava carregando ela. E eu ia me culpar para sempre. Tentei ser o mais cauteloso possível, estava com a minha vida nas mãos”, lembra ele.

Depois do resgate, a família foi de barco até uma praça. De lá, embarcaram em uma lancha até a região do Gasômetro. Eles ficaram alguns dias no abrigo montado no Colégio Marista Rosário, no bairro Independência, em Porto Alegre.

“Fomos muito bem acolhidos e muito bem supridos. Havia muito suporte e não deixavam faltar nada.” Na última segunda-feira, família conseguiu alugar uma casinha temporária na Lomba do Pinheiro, na capital gaúcha. Eles ainda não sabem o estado da casa de Eldorado do Sul.

A água ainda não baixou o suficiente. Além disso, a pista que dá acesso a minha rua está obstruída por uma cratera. Os objetos no interior foram todos atingidos, e a casa mesmo é de estrutura frágil. Mesmo que fique de pé, não sabemos como vai ficar depois de tanta água. Com as paredes úmidas, não dá para ficar com a bebê lá.

Uol.com.br

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