Episódios de falta de energia elétrica, agora mais frequentes em função das chuvas, têm revoltado produtores rurais do distrito de Bananal, em Curvelo, na região Central de Minas. A situação, que se intensificou desde o fim de dezembro, tem gerado prejuízos, especialmente para produtores de leite que dependem de energia constante para manter o produto. Em alguns casos, as perdas chegam a R$ 80 mil em poucos dias.
Os agricultores relatam danos em equipamentos elétricos, além de perdas de mercadorias perecíveis, como o leite e o queijo, alimentos importantes da cultura e culinária mineira. “Os relatos de falta de energia são constantes. Hoje temos relatos no distrito de Bananal, mas ontem era em São José da Lagoa e demais distritos da região. Eu mesmo ontem fiquei o dia todo sem luz e sem telefone, e não tem como acionar a Cemig”, afirma o produtor rural de leite e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Curvelo, Tiago Guimarães.
Atualmente, são cerca de 7 mil produtores rurais associados ao sindicato. Segundo o presidente da instituição, a maioria absoluta relata problemas constantes de falta de energia. Além disso, a dificuldade em acionar a Cemig, responsável pelo fornecimento na região, se torna um obstáculo para conseguir solucionar o problema a curto prazo e evitar prejuízos. “Quando você consegue fazer reclamação, tem uma demora de até 48h para resolver o problema. Ficamos ilhados literalmente. Ainda tem o problema da tensão quando volta. Isso porque as vezes volta alta ou baixa demais, impedindo o religamento do aparelho que pode danificar. Aí lá se vai mais um monte de burocracia para conseguir pedir o reparo disso”, reclama.
Na tentativa de minimizar os impactos da queda de energia, muitos produtores têm recorrido à instalação de geradores, segundo Guimarães. Entretanto, os custos para manutenção do equipamento oneram os agricultores. “Eu tenho gerador porque sou produtor de leite, mas no final de dezembro fiquei oito dias sem energia. Gasto cerca de dois mil litros de óleo diesel por dia para o funcionamento do gerador, isso dá uma média de gastos de 10 mil reais por dia. Em oito dias, foi um prejuízo de mais de 80 mil reais”, lamenta.
Terceirização de agências prejudica atendimento
Para o coordenador do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro MG), Emerson Andrada, a dificuldade de atendimento relatada em Curvelo é consequência da terceirização das agências, que acarretou um distanciamento entre empresa e consumidor.
“Entre 2021 e 2022, denunciamos a terceirização de agências de atendimento para parceiros e pequenos comércios locais. Mas esses parceiros não têm a compreensão do restabelecimento de energia de modo que eles não sabem informar e nem encaminhar os problemas. Com isso, o consumidor não consegue acessar a empresa e tem dificuldade em acessar o representante da empresa”, explica.
Problemas são reflexos de sucateamento histórico
O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Marcos Vinicius da Silva Bizarro, avalia que os problemas enfrentados em Curvelo e em outras cidades do interior de Minas são reflexos de um sucateamento histórico da Cemig. “Isso é um problema que venho alertando tanto o governador (Romeu Zema) como o presidente da Cemig (Reynaldo Passanezi). A empresa está sucateada e descobrindo que estava fazendo investimento de recursos em redes fora do nosso Estado. Nos últimos anos isso mudou, agora vão investir em Minas, haja vista a quantidade de estações que estão construindo”, pontua.
Para o presidente da AMM, o problema deve ser solucionado apenas com investimentos aplicados ao longo de anos. “Vai levar alguns meses e até anos para regularizar tudo. Isso atrasa o desenvolvimento. É preciso construção de mais subestação, valorização das energias renováveis e incentivos para as usinas. Se a demanda aumentar, temos que aumentar a capacidade”, finaliza.
Questionada sobre o problema de Curvelo, a Cemig informou que analisa o caso relatado pelos moradores e irá verificar possíveis medidas para normalizar o fornecimento de energia nos locais informados da forma mais breve possível.
A reportagem questionou o governo de Minas sobre o caso e aguarda retorno.
O Tempo